terça-feira, 2 de julho de 2013
Os atos de fala e as pulsões relacionadas de acordo com o método ADL.
Quando descobri o trabalho do psicanalista argentino David Maldavsky nos seminários do Doutorado em Psicologia da UCES em Buenos Aires em 2011, tive acesso a uma sistematização diferenciada da Psicanálise. Se antes, por meio de algum conhecimento do que escreveram os psicanalistas brasileiros Fábio Hermann e Renato Mezan sobre a cientificidade da Psicanálise, eu já me permitia pensar o conhecimento psicanalítico freudiano como um método e enquanto tal, ciência, com Maldavsky tudo isto apenas se fortaleceu.
Ao longo de 30 anos de estudo sobre os tipos de discursos de pacientes na clínica psicanalítica, Dr.Maldavsky criou o Algoritmo David Liberman (ADL), uma homenagem ao seu mentor e inspirador ( psicanalista influente na Buenos Aires dos anos 60)conhecido por ter sido um dos primeiros psicanalistas a se preocupar em definir a clínica como lugar de pesquisa ( hipotética-dedutiva) a partir do discurso dos pacientes e também do próprio discurso do analista como complemento ao que o paciente dizia.
Tentando ser bem sintético, o ADL é composto de tabelas que agregam nelas várias possibilidades de discursos que foram divididas em palavras, frases e relatos e relacionadas com as fases psicossexuais freudianas, ou melhor, com as pulsões ( que os argentinos nomeiam de "deseos" ou "erogeneidades".Como exemplo posso assinalar; Frases que tenham conteúdo que possam ser interpretados como "ambiguidade","abstrações" ou "referencias a estados corporais" foram relacionados a falas de tipo Oral primário (O1) enquanto que falas com conteúdo de "lamentação", "queixas", "submissão" e "sentimentos de inutilidade" foram relacionadas com pulsão Oral secundário (O2).Tudo isto está previsto em tabelas que o pesquisador pode, não sem o esforço da analisar,fazer as correlações.
Do ponto de vista psicodinâmico, sabemos que a fase oral quarda pontos de fixação que remetem a psicoses e estados emocionais que referem um ego mais fragilizado. Maldavsky não adota um estruturalismo lacaniano, no entanto em momento algum abandona a metapsicologia e acredita que o psiquismo possui a capacidade de conter todas as manifestações, diferenciando-se por intensidades e contextos. Em outras palavras, é possível "ver" em um neurótico a manifestação de falas psicóticas, ou ainda, em um mesmo discurso, conteúdos histéricos e paranóicos.O que talvez já soubessemos da prática, o ADL nos permite organizar enquanto metodologia.
Outras falas tabeladas são por exemplo, frases com conteúdo de "acusações" e "ofensas" (Anal primário A1),"dúvidas", "perguntas" e "detalhes" ( Anal secundário A2), "desconfiança" e "referencias a casualidade" ( Fálico uretral FU) e "dramatização" e "agradecimentos" ( Fálico genital FG).
Em verdade existem vários tipos de conteúdos possíveis de podermos interpretar em um discurso e fazer a correlação com um "deseo".Como eu já mencionei existem várias tabelas construídas ao longo dos anos, fruto de pesquisas com vários pacientes. As dominâncias nos dão a chance de entender a dinâmica do sujeito analisado ou pesquisado.
Vale ainda ressaltar que Dr Maldavsky acrescentou uma outra fase àquelas propostas por Freud; a Libido Intra-Somática ( LI),que ele atrela a pacientes com comprometimentos que remetem ao corporal como adictos e psicossomáticos. Falas de tipo "catártica" e "predominância de contas", "ecolalia" ou "falas de perseveração", podem ser indicativos de dinâmicas LI.
Obviamente, muito pode ser dito sobre o ADL. Além de frases, a metodologia permite analisar palavras e relatos inteiros.E assim como nos permite correlacionar as falas com os desejos, nos da a possibilidade ainda de percebermos os mecanismos de defesa utilizados pelo sujeito, com a existência de tabelas específicas para as defesas.
Iniciei uma pesquisa com o ADL no intuito de saber quais os desejos e defesas presentes nas falas de pessoas em um processo de Mediação de Conflitos e a partir daí poder pensar não apenas sobre a psicodinâmica das partes envolvidas na Mediação, mas também do próprio mediador, para entender suas intervenções verbais e analisar a condução do trabalho.
Deixo a dica sobre o trabalho do Dr Maldavsky. Sua principal obra ( dentre vários livros e artigos) chama-se " La Investigación psicoanalíticas del lenguaje", lançada em 2004 pela Lugar editorial de Buenos Aires.Infelizmente ainda inédito por aqui.
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