Rubens Alves, escritor, educador e psicanalista já escreveu que as pessoas deveriam fazer menos curso de oratória e se dedicar a algum curso de "escutatória", pois parecem que todos querem falar mas não tem a mesma disposição para escutar. Isso ilustra bem as relações interpessoais em geral e realmente merece atenção. Já na prática da clínica psicanalítica sempre estudamos que a escuta, se não é tudo é fundamental, haja vista que a idéia de que temos que saber lidar com o silêncio do paciente sempre permeia a condução do trabalho.
Não há dúvida: nós, seguidores da psicanálise, somos "treinados" para escutar. Escutar o inconsciente, as repressões, as defesas, o édipo. E que fique bem claro que isso não é escutar de qualquer jeito, nem qualquer coisa. Escutamos os não-ditos, aquilo que no discurso escorrega, tropeça e de alguma forma clama para "entregar" o sujeito para si mesmo e , principalmente, para o analista, pois este irá poder fazer com que isso ( sim...o "isso" lacaniano) retorne para o lugar de onde veio, ou seja, um sujeito que não sabe que sabe, aquilo que aparece na escrita de Manonni; um saber que não se sabe.
É exatamente aqui que quero me ater neste instante. Em como o analista faz retornar o isso.
Antes...atesto mais uma vez a quase "sagrada" condição de nossa prática: escutar é tão fundamental que é comum que atrelemos a escuta como aquilo que implica a psicanálise também fora das paredes do consultório. Como se implica a Psicanálise em outros lugares de atuação do psicólogo? o que a caracteriza. A escuta dirão. Eis a mola mestra, eis o que nos marca, a escuta. Dentro do consultório, mas também fora, quando fazemos outras psicanálises.
Voltando... quero propor pensar que é chegada a hora de darmos mais valor ao que fazemos além da escuta. Obviamente, existem comunicações não verbais e que são de suma importancia no trabalho clínico, não se duvida disso nem em psicanálise. Mas o valor que reivindico não é para outra coisa senão nossa fala. O que fala e como fala um analista, ou mesmo um psicoterapeuta de orientação analítica ( enfim, seguimos a Freud, não é?) tem que vir a ser mais objeto de nosso interesse.
Jorge Forbes tem falado sobre isso nas suas reflexões sobre a Psicanálise no século XXI. Lacan também quando deixou claro que o analista conduz a análise ( sim! para desespero de quem ainda de forma ingênua, crê que quem conduz é o paciente sozinho e nós apenas o escutamos). Não é isso que incomodou tanta gente? o analista vir a saber mais que o paciente sobre ele mesmo? mas, parecem esquecer que só é assim para nós porque acreditamos que o paciente não sabe que sabe. Não é bem isso o inconsciente?
Então...o analista fala.É preciso esclarecer. primeiro sigamos Nasio quando brilhantemente nos provocou com a idéia do silêncio-em -si. Desde que li isto pela primeira vez em 1999, não tive mais medo de falar. Exatamente porque fiz silêncio, calei meu "ego" e assim pude falar com meus pacientes.
Acredito ainda que a importancia desta pequena reflexão remete à formação de novos psicoterapeutas psicanalíticos. Diante daquilo que o paciente diz não me resta apenas escutar. Claro que se eu não escutar nada de psicanalítico poderá ser feito. Mas que eu saiba o que eu escuto. Porque? porque eu preciso falar também. O que eu falo? como falo? em que momento falo? são questões essenciais da clínica psicanalítica moderna. Não esqueçamos que Freud já nos ensinou sobre a construção e a interpretação e bem depois, Fiorini e Zimmerman estudaram as intervenções verbais do analista. Entre eles, Lacan ( de novo) já havia escrito que a resistência é do próprio analista, não exatamente do paciente.
Enfim...esta é a questão para quem se aventura na psicoterapia psicanalítica. Depois que eu escuto, o que eu falo?
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